TJMA faz alusão ao Dia Internacional para Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição
Esta sexta-feira (23/8) faz alusão ao Dia Internacional para Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição. A data foi escolhida em 1988 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e tem como marco a revolta ocorrida no Haiti, em 1971, que desencadeou na independência do país e abalou radicalmente o sistema escravista, dando início ao processo de abolição do comércio de pessoas escravizadas.
O juiz Geovane Santos, integrante do Comitê de Diversidade do TJMA, fala sobre a importância de relembrarmos a data e reconhecermos a profundidade dos impactos históricos que a escravidão impôs sobre milhões de pessoas e suas descendências.
“Essa reflexão é crucial nos dias atuais, pois as consequências dessas práticas ainda estão presentes, manifestando-se em formas contemporâneas de racismo, discriminação econômica e social e exclusão política. Além disso, a memória dessa diáspora reforça a necessidade contínua de implementar políticas públicas que promovam, a partir de uma perspectiva interseccional, a justiça social e a igualdade, contribuindo para o combate ao racismo estrutural que ainda persiste em diversas sociedades, incluindo o Brasil”, destacou.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil foi o maior importador de escravizados(as) africanos(as) entre os países do continente americano que praticaram este tipo de comércio. Cerca de 4 milhões de homens, mulheres e crianças foram trazidos para cá por meio do tráfico transatlântico entre os séculos XVI e meados do XIX. As populações escravizadas eram oriundas, principalmente, da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim, Congo, Angola e Moçambique.
No artigo “A década internacional de afrodescendentes: ações de enfrentamento ao racismo e a visita da comissão da ONU ao Brasil”, o coordenador do Comitê de Diversidade, juiz Marco Adriano Fonsêca, contextualiza os resquícios atuais decorrentes do tráfico de pessoas no período colonialista e comenta sobre as iniciativas da ONU no enfrentamento à discriminação sistêmica, com o objetivo de intensificar os esforços internacionais de combate a crimes de violações dos direitos humanos básicos. O artigo foi publicado no Portal de Notícias Migalhas e está disponível no endereço.
REPARAÇÕES HISTÓRICAS À DIÁSPORA
Em razão da expressividade da diáspora africana e suas consequências na sociedade atual, a ONU instituiu a Década Internacional de Afrodescendentes, que abrange os anos de 2015 a 2024. O intuito é que as nações do mundo, particularmente as da Europa Ocidental e do continente Americano, criem legislações de combate à intolerância, ao racismo e à xenofobia. Para esta missão a ONU designou a Relatora Especial, de origem indiana, Ashwini K.P., que esteve no Brasil entre os dias 5 e 16 de agosto deste ano.
Em sua visita ao Maranhão, no dia 10 de agosto, Ashwini K.P. conversou com os coordenadores do Comitê de Diversidade do TJMA, juíza Elaile Silva Carvalho e juiz Marco Adriano Ramos Fonsêca, que apresentaram o trabalho do Poder Judiciário no estado a partir das ações que o Comitê realiza e da sua atuação em comissões que buscam tirar da invisibilidade as populações quilombolas e indígenas. O encontro aconteceu na sede do Ministério Público Federal (MPF-MA) e contou com a participação de representantes da Rede de Justiça para discutir as ações dos órgãos no combate ao racismo.
Além de São Luís, a representante da ONU esteve em Salvador, Brasília, São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro. As informações preliminares coletadas no Brasil estão disponíveis na íntegra na página do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Os dados serão apresentados ao Conselho de Direitos Humanos da ONU em junho de 2025.
AÇÕES PERMANENTES CONTRA O RACISMO
Instituído por meio da Resolução nº 47/2020, em 6 de julho de 2020, o Comitê de Diversidade do TJMA é um dos cinco primeiros comitês instalados no Judiciário brasileiro. Seu trabalho no combate às práticas discriminatórias de todos os tipos estão em alinhamento à Agenda 2030 da ONU, especialmente os ODS 10 (Redução de Desigualdades) e 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes).
Em conformidade com sua política antidiscriminatória e assegurando o acesso à Justiça, o Comitê desenvolve diversas sensibilizações voltadas ao racismo, um de seus eixos de trabalho:
E-book Diversidade e Antidiscriminação - A segunda edição, publicada em março deste ano, contou com 32 artigos contendo temáticas de combate à discriminação e ao preconceito. A iniciativa conta com a parceria da Escola Superior da Magistratura do Maranhão (ESMAM), por meio do selo editorial Edições da Escola.
Diálogos Plurais – Constitui um desdobramento do E-book “Diversidade e Antidiscriminação” e integra os(as) autores(as) dos artigos de instituições de ensino a partir da apresentação de seus trabalhos e interação com estudantes.
Seminário de Diversidade e Antidiscriminação - Discute diferentes formas de discriminação e propõe ações na perspectiva da reparação histórica, com a participação efetiva do acesso à Justiça de forma democrática. A quarta edição do evento está prevista para novembro deste ano.
Prêmio Luiz Alves Ferreira (Luizão) de Promoção à Diversidade e Combate à Discriminação - Reconhece práticas antidiscriminatórias bem sucedidas desenvolvidas pelo público interno do Poder Judiciário e por escolas públicas de ensino médio do Maranhão. Durante a cerimônia de entrega do prêmio, parceiros e parceiras do Comitê de Diversidade também são homenageados com Menção Honrosa. O evento terá sua quarta edição em 2025.
Exposição “Maria Firmina dos Reis: 200 anos construindo humanidades” - Realizada em parceria com o Museu Desembargador Lauro Berredo Martins, a mostra permite ao público conhecer a vida da escritora maranhense por meio de ilustrações digitais exclusivas e de aquarelas. A exposição já realizou itinerâncias na cidade de Guimarães, além de ser disponibilizada ao público no Fórum Sarney Costa, na Galeria Trapiche, na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA), na Diretoria de Assuntos Culturais (DAC-UFMA), na Secretaria de Saúde e na Defensoria Pública Estadual (DPMA).
Dia da Empregabilidade - Ação voltada às mulheres negras e também ao público LGBTQIA+ com o objetivo de viabilizar a inserção destes no mercado de trabalho. A sensibilização ocorreu em maio deste ano e contou com a parceria do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Secretaria de Estado do Trabalho e da Economia Solidária (SETRES), da Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP), da Montisol - Construções e Manutenção e da ALUMAR (Consórcio de Alumínios do Maranhão).
Dia Nacional de Tereza de Benguela e Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha (25/7) - A programação deste ano, relativa à data, teve como tema “Rodas de Afetos inspiradas em Mulheres Negras”. Os encontros foram realizados nos dias 22 e 23 de junho em uma instituição de acolhimento para crianças e adolescentes, em São Luís, e no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), no bairro João de Deus.
Processo de Heteroidentificação do ENAM - A Comissão de Heteroidentificação do ENAM (Exame Nacional da Magistratura) é presidida pela juíza Adriana da Silva Chaves, ouvidora indígena e membra do Comitê, e composta por servidores do Poder Judiciário do Maranhão.
Cursos voltados à temática - As formações são promovidas em parceria com a ESMAM. O curso “Sistema de Justiça e Direito Antidiscriminatório”, atualmente em andamento, é ministrado pelos coordenadores do Comitê de Diversidade, juiz Marco Adriano Fonsêca, juíza Elaile Carvalho e a ouvidora indígena e membra do Comitê, juíza Adriana Chaves. O curso aborda a análise de práticas discriminatórias no contexto sócio-histórico, bem como a implementação de ações de diversidade e inclusão.
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